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January 13, 2009

Tintin faz 80 anos...

Foi a 10 de Janeiro de 1929 que o belga "Le Petit Vingtième" publicou a primeira prancha de Tintin, dando início a uma aventura cuja actualidade, 80 anos depois, se faz cada vez mais distante da banda desenhada.

Na primeira prancha, a preto e branco, tal como as oito aventuras que se seguiram (mais tarde, redesenhadas a cores), Tintin partia, de comboio, para o "País dos Sovietes", onde escreveria a primeira e única reportagem. Era um início marcado pela ingenuidade e pelo desenvolver do argumento ao correr dos desenhos, mas em que Hergé já revelava as qualidades - legibilidade, domínio da planificação, dinamismo do traço, construção da trama - que fariam dele um dos nomes maiores da 9ª arte.

Depois da Rússia, retratada de forma crítica e parcial, por influência do director do jornal católico que o publicou, Hergé levaria o seu herói a África e aos Estados Unidos, à América do Sul, um pouco por toda a Europa e mesmo à Lua, 20 anos antes de Armstrong. Com Tintin, construiu uma obra equilibrada e deslumbrante, traçada num primoroso estilo linha clara, tendo por principais vectores a aventura, a amizade, a lealdade e o sentido de justiça.

E que hoje permanece perfeitamente legível - e inalterada, devido à vontade expressa por Hergé - e na qual se encontram algumas obras-primas da BD. Mas que, nalguns casos, necessita de ser lida e interpretada à luz da época e do contexto em que foi criada, para evitar acusações como "racista", "defensor de maus tratos aos animais" ou "colaboracionista", que regularmente são feitas a Hergé. O caso mais recente veio, nesta semana, nas páginas do jornal "The Times", em artigo de Matthew Parris, ex-deputado britânico, intitulado "Claro que Tintin é gay. Perguntem a Milu" - o cão que acompanha o herói por todo o lado -, desmontado por estudiosos e defensores da obra de Hergé.

A venda de originais tem também feito manchetes, como em Abril passado, quando o desenho a guache que serviu de capa à primeira edição de "Tintin na América", datado de 1932, foi leiloado por 762 mil euros.

Com mais de 200 milhões de álbuns vendidos, a actualidade de Tintin a nível editorial (uma vez que o último álbum original é de 1976 e que Hergé faleceu em 1983) vem das sucessivas reedições em novas línguas e dialectos (que somam já mais de 50) e formatos, como o recente "Tout Tintin", que compila as 24 histórias num único tomo de 1694 páginas.

Isto a par do filme e da inauguração do Museu Hergé, marcada para 22 de Maio, data do 101º aniversário do nascimento do pai de Tintin. Situado em Louvain-la-Neuve, na Bélgica, foi desenhado com a forma de um prisma, quase sem ângulos rectos, que parece flutuar, pelo arquitecto francês Christian de Portzamparc.

A vontade de Steven Spielberg adaptar Tintin levou-o a conversar com Hergé sobre o assunto, tendo adquirido os direitos cinematográficos logo em 1983, adivinhando alguns a sua sombra em Indiana Jones, nomeadamente no espírito de aventura pura que percorre os filmes.

Em 2007, após acordo com os herdeiros de Hergé, Spielberg anunciou uma trilogia com actores de carne e osso, em parceria com Peter Jackson, em que o primeiro filme, dirigido por si e baseado no díptico "O segredo da Licorne"/"O Tesouro de Rackham, o terrível", estrearia em 2008. O segundo filme, dirigido por Jackson, seria baseado em "As Sete bolas de Cristal"/"O Templo do Sol", juntando-se os dois para realizar a última película, sobre "Rumo à Lua"/ "Explorando a Lua".

Só que as dificuldades para conseguir os 130 milhões de euros de financiamento para o projecto atrasaram-no sucessivamente, estando agora previsto o início das filmagens para Fevereiro e a estreia em 2010.

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