A disposição das ossadas mostra o cuidado de quem sepultou a família com 4600 anos de idade. O filho mais velho de frente para o pai, o filho mais novo de frente para a mãe e os dois adultos flectidos, pernas a tocarem-se num contínuo, com a cabeça do homem em direcção a Oeste, a da mulher em direcção a Este, mas a face de ambos a olhar para Sul, como era tradição na Cultura da Cerâmica Cordada que existiu no Centro e Nordeste europeu durante o neolítico.
O “quadro” encontrado no sítio arqueológico de Eulau na região alemã da Saxónia-Anhalt é tão ilustrativo da ideia de família que Wolfgang Haak sentiu-se comovido quando viu pela primeira vez a sepultura. “Sentes uma certa simpatia por eles, é uma coisa humana”, disse, citado pela BBC News, o cientista do Australian Centre for Ancient DNA (Centro australiano para o DNA antigo).
Mas foi a confirmação genética do parentesco entre a família que tornou a descoberta publicada hoje na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences”, tão excitante. “Ao estabelecer os elos genéticos (...) estabelecemos a presença do núcleo familiar num contexto pré-histórico na Europa Central - pelo que sabemos, a mais antiga prova dada pela genética molecular até agora”, disse Haak, um dos autores do artigo, citado pelo Science Daily”,
Foram encontradas quatro sepulturas e 13 corpos. Os adultos apresentavam vários ferimentos: uma mulher tinha uma ponta de pedra enterrada na vértebra e outra apresentava ferimentos no crânio. Segundo os cientistas, a comunidade sofreu um ataque violento de outro grupo e salvaram-se os jovens adultos, já que a maioria das ossadas pertenciam a crianças ou a mulheres com mais de 30 anos.
Os cientistas pensam que quem se salvou veio depois enterrar os mortos, pois conheciam de perto as relações dos indivíduos. “A disposição dos corpos espelha as relações que tinham em vida”, diz o artigo, que refere a importância dada ao parentesco já que, por exemplo, os filhos do casal estão virados para os pais e de costas para o Sul, indo contra os costumes da cultura.
Os cientistas compararam o ADN dos ossos entre os adultos e as crianças. Com o ADN mitocôndrial, que todas as pessoas herdam da mãe, e com o ADN do cromossoma masculino - o Y, provaram que os dois rapazes eram obrigatoriamente filhos do homem e da mulher da sepultura. “O que é extraordinário é a genética que torna a prova [de um núcleo familiar] incontornável”, disse ao PÚBLICO por telefone Mariana Diniz, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Através dos isótopos do estrôncio, um elemento que se vai acumulando nos dentes dos humanos ao longo do crescimento, os investigadores concluíram ainda que as mulheres, ao contrário dos homens, não eram originárias daquele local, já que tinham uma quantidade relativa do elemento que a alimentação da região não podia dar. Os investigadores defendem que as mulheres viajavam de longe, para se casarem com os homens, evitando a endogamia e promovendo as boas relações entre comunidades.
O “quadro” encontrado no sítio arqueológico de Eulau na região alemã da Saxónia-Anhalt é tão ilustrativo da ideia de família que Wolfgang Haak sentiu-se comovido quando viu pela primeira vez a sepultura. “Sentes uma certa simpatia por eles, é uma coisa humana”, disse, citado pela BBC News, o cientista do Australian Centre for Ancient DNA (Centro australiano para o DNA antigo).
Mas foi a confirmação genética do parentesco entre a família que tornou a descoberta publicada hoje na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences”, tão excitante. “Ao estabelecer os elos genéticos (...) estabelecemos a presença do núcleo familiar num contexto pré-histórico na Europa Central - pelo que sabemos, a mais antiga prova dada pela genética molecular até agora”, disse Haak, um dos autores do artigo, citado pelo Science Daily”,
Foram encontradas quatro sepulturas e 13 corpos. Os adultos apresentavam vários ferimentos: uma mulher tinha uma ponta de pedra enterrada na vértebra e outra apresentava ferimentos no crânio. Segundo os cientistas, a comunidade sofreu um ataque violento de outro grupo e salvaram-se os jovens adultos, já que a maioria das ossadas pertenciam a crianças ou a mulheres com mais de 30 anos.
Os cientistas pensam que quem se salvou veio depois enterrar os mortos, pois conheciam de perto as relações dos indivíduos. “A disposição dos corpos espelha as relações que tinham em vida”, diz o artigo, que refere a importância dada ao parentesco já que, por exemplo, os filhos do casal estão virados para os pais e de costas para o Sul, indo contra os costumes da cultura.
Os cientistas compararam o ADN dos ossos entre os adultos e as crianças. Com o ADN mitocôndrial, que todas as pessoas herdam da mãe, e com o ADN do cromossoma masculino - o Y, provaram que os dois rapazes eram obrigatoriamente filhos do homem e da mulher da sepultura. “O que é extraordinário é a genética que torna a prova [de um núcleo familiar] incontornável”, disse ao PÚBLICO por telefone Mariana Diniz, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Através dos isótopos do estrôncio, um elemento que se vai acumulando nos dentes dos humanos ao longo do crescimento, os investigadores concluíram ainda que as mulheres, ao contrário dos homens, não eram originárias daquele local, já que tinham uma quantidade relativa do elemento que a alimentação da região não podia dar. Os investigadores defendem que as mulheres viajavam de longe, para se casarem com os homens, evitando a endogamia e promovendo as boas relações entre comunidades.
in Público, 18.11.2008
Nicolau Ferreira
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