É difícil haver que não tenha já ouvido falar dos Estrumpfes e tenha, se não a colecção completa, pelo menos um dos famosos gnomos azuis. Também conhecidos como Schtroumpfs, no francês original, “Smurfs”, em inglês, “Pitufos” em espanhol ou, simplesmente, “Puffi” em italiano, os Estrumpfes celebram, ou “estrumpfam”, hoje 50 anos. Nasceram do traço do desenhador belga Peyo na revista "Spirou", em 1958.
O início do sucesso surgiu na mente de Peyo durante um almoço, cenário propício para as grandes ideias, durante as férias na casa de amigos. Para pedir que lhe passassem o sal no fundo da mesa, Peyo não se lembrava da palavra e saiu-lhe qualquer coisa como: “por favor, passa-me o...o...o estrumpfe aí ao fundo”. Franquin, amigo, colega de profissão e criador de personagens como Marsupilami, responde-lhe no meio de uma gargalhada: “Toma, eu estrumpfo-te”. Estava assim criada a língua dos “Estrumpfes”. As personagens viriam a seguir.
Leonardo Sá, investigador e historiador de Banda Desenhada explica que um dos truques do sucesso dos pequenos duendes azuis é esta fala particular "juntando ‘estrumpfe’ no final de todas as frases e substituir qualquer substantivo ou verbo por ‘estrumpfar’”. De facto, as frases tornam-se mais cómicas e fazem as delícias de quem ouve. Apesar de poderem gerar dúvidas, “percebe-se bem qual a intenção do que querem dizer”.
O facto de serem de cor azul tem uma explicação de estilo simples: não podia ser outra. Inicialmente Peyo e a mulher pensaram em verde, mas iriam confundir-se com o verde da vegetação. Vermelho seria muito forte, pelo que decidiram optar pelo azul.
Os Estrumpfes não escaparam à polémica nem foram consensuais. Entre os que adoram há também os que detestam. Especulou-se sobre a barba e boné vermelho do “patriarca” dos Estrumpfes como alusão ao marxismo, falou-se de ideologias políticas, que eram anti-semita, ou pertenciam ao Klu Klux Klan, mas a família de Peyo esclarece que nada disso era intenção de seu criador. O filho garante que o único objectivo do pai era promover “o amor e a amizade”.
O “estrumpfo” dos Estrumpfes
Os Estrumpfes têm personalidades muito fortes, andam sempre de gorro (que não tiram nem para dormir ou tomar banho) e calças brancas. São vegetarianos e habitam uma floresta distante, longe do perigo dos humanos. Vivem em comunhão pacífica com a natureza, numa vila feita de cabanas em forma de cogumelos. Não existe dinheiro, trabalham de graça e a sua única preocupação (que mesmo assim não lhes tira o sono) é o vilão, o feiticeiro Gasganete que insiste em tentar capturar um deles sempre sem sucesso. A descrição à primeira vista pode não parecer muito emocionante, mas a verdade é que estes pequenos duendes levaram o seu criador “quase à loucura” com o sucesso que atingiram. Peyo brincava que os Estrumpfes o absorviam e não deixavam nenhuma outra criação que fosse feita por ele também triunfasse.
Do Grande Estrumpfe, o chefe da aldeia, o mais respeitado com os seus 524 anos, ao Estrumpfes cozinheiro, vaidoso, o ganancioso, o guloso ou pintor, todos têm uma característica que os distingue. São cem habitantes na vila e todos têm cem anos de idade. A Estrumpfina é a única representante do género feminino, e o único bebe é...o Bébe Estrumpfe.
Para Leonardo Sá, a BD criada por Peyo deve ainda parte do sucesso às personagens agradáveis e apelativas criadas a pensar nos leitores mais novos. “São desenrascados, até algo ‘patetas’, mas dão sempre a volta ao problema, apesar das vicissitudes. E como são pequenos, e a priori mais vulneráveis, escapam facilmente a todos os perigos e da floresta.”
Em Portugal, segundo o historiador, a União Gráfica foi a primeira a publicar uma série de “Os Schttrumpfs”, em 1967 com dois álbuns: “Os Schttrumpfs Negros” e “O ovo e os Schttrumpfs”. A partir de 1980 com a editorial Publica foram editados doze álbuns das “Aventuras dos Estrumpfes”.
Mais episódios e longa-metragem dos Estrumpfes para breve
Também nos anos 80, graças à produtora americana Hanna Barbera contratada pelos estúdios da NBC, passaram para a televisão. A neta de um dos proprietários “apaixonou-se” pelos “Smurfs” e os pequenos duendes começaram a aparecer no pequeno ecrã. Em meados dos anos 80 chegaram a Portugal, onde passaram na RTP.
Os 227 episódios foram produzidos pelo próprio Peyo durante oito anos. Vinte anos depois ainda são difundidos nas televisões por todo o mundo. Em 2005 a série voltou a passar na televisão portuguesa e agora esperam-se os novos episódios que apesar de Peyo ter morrido há 16 anos, são agora produzidos pelo filho e restante equipa que mantém a criatividade e bom humor característicos da série. Uma longa-metragem dedicada aos “Estrumpfes” vai sair ainda este ano.
As comemorações do meio século “de vida” dos Estrumpfes começaram em Janeiro. A mais original será a digressão em países europeus de vários duendes “do tamanho de três maças”. A capital escolhida pela iniciativa acorda um dia de manhã com centenas de pequenos Estrumpfes brancos espalhados pela cidade a fazerem filas nos autocarros, nos correios ou a irem para o metro. Quem quiser pode pegar e ficar com um e pintá lo de acordo como a sua criatividade. O objectivo é espalhar a boa disposição e fazer sorrir toda a gente. Os mais originais “estrumpfam” um prémio. Também hoje será leiloado um Estrumpfe gigante pintado por uma celebridade. O lucro reverte na totalidade para a UNICEF. Entretanto, podem-se também “estrumpfar” os parabéns aos Estrumpfes, porque afinal meio século só se “estrumpfam” uma vez.
Público 23.10.2008 - 14h59 Ana Margarida Pereira
O início do sucesso surgiu na mente de Peyo durante um almoço, cenário propício para as grandes ideias, durante as férias na casa de amigos. Para pedir que lhe passassem o sal no fundo da mesa, Peyo não se lembrava da palavra e saiu-lhe qualquer coisa como: “por favor, passa-me o...o...o estrumpfe aí ao fundo”. Franquin, amigo, colega de profissão e criador de personagens como Marsupilami, responde-lhe no meio de uma gargalhada: “Toma, eu estrumpfo-te”. Estava assim criada a língua dos “Estrumpfes”. As personagens viriam a seguir.
Leonardo Sá, investigador e historiador de Banda Desenhada explica que um dos truques do sucesso dos pequenos duendes azuis é esta fala particular "juntando ‘estrumpfe’ no final de todas as frases e substituir qualquer substantivo ou verbo por ‘estrumpfar’”. De facto, as frases tornam-se mais cómicas e fazem as delícias de quem ouve. Apesar de poderem gerar dúvidas, “percebe-se bem qual a intenção do que querem dizer”.
O facto de serem de cor azul tem uma explicação de estilo simples: não podia ser outra. Inicialmente Peyo e a mulher pensaram em verde, mas iriam confundir-se com o verde da vegetação. Vermelho seria muito forte, pelo que decidiram optar pelo azul.
Os Estrumpfes não escaparam à polémica nem foram consensuais. Entre os que adoram há também os que detestam. Especulou-se sobre a barba e boné vermelho do “patriarca” dos Estrumpfes como alusão ao marxismo, falou-se de ideologias políticas, que eram anti-semita, ou pertenciam ao Klu Klux Klan, mas a família de Peyo esclarece que nada disso era intenção de seu criador. O filho garante que o único objectivo do pai era promover “o amor e a amizade”.
O “estrumpfo” dos Estrumpfes
Os Estrumpfes têm personalidades muito fortes, andam sempre de gorro (que não tiram nem para dormir ou tomar banho) e calças brancas. São vegetarianos e habitam uma floresta distante, longe do perigo dos humanos. Vivem em comunhão pacífica com a natureza, numa vila feita de cabanas em forma de cogumelos. Não existe dinheiro, trabalham de graça e a sua única preocupação (que mesmo assim não lhes tira o sono) é o vilão, o feiticeiro Gasganete que insiste em tentar capturar um deles sempre sem sucesso. A descrição à primeira vista pode não parecer muito emocionante, mas a verdade é que estes pequenos duendes levaram o seu criador “quase à loucura” com o sucesso que atingiram. Peyo brincava que os Estrumpfes o absorviam e não deixavam nenhuma outra criação que fosse feita por ele também triunfasse.
Do Grande Estrumpfe, o chefe da aldeia, o mais respeitado com os seus 524 anos, ao Estrumpfes cozinheiro, vaidoso, o ganancioso, o guloso ou pintor, todos têm uma característica que os distingue. São cem habitantes na vila e todos têm cem anos de idade. A Estrumpfina é a única representante do género feminino, e o único bebe é...o Bébe Estrumpfe.
Para Leonardo Sá, a BD criada por Peyo deve ainda parte do sucesso às personagens agradáveis e apelativas criadas a pensar nos leitores mais novos. “São desenrascados, até algo ‘patetas’, mas dão sempre a volta ao problema, apesar das vicissitudes. E como são pequenos, e a priori mais vulneráveis, escapam facilmente a todos os perigos e da floresta.”
Em Portugal, segundo o historiador, a União Gráfica foi a primeira a publicar uma série de “Os Schttrumpfs”, em 1967 com dois álbuns: “Os Schttrumpfs Negros” e “O ovo e os Schttrumpfs”. A partir de 1980 com a editorial Publica foram editados doze álbuns das “Aventuras dos Estrumpfes”.
Mais episódios e longa-metragem dos Estrumpfes para breve
Também nos anos 80, graças à produtora americana Hanna Barbera contratada pelos estúdios da NBC, passaram para a televisão. A neta de um dos proprietários “apaixonou-se” pelos “Smurfs” e os pequenos duendes começaram a aparecer no pequeno ecrã. Em meados dos anos 80 chegaram a Portugal, onde passaram na RTP.
Os 227 episódios foram produzidos pelo próprio Peyo durante oito anos. Vinte anos depois ainda são difundidos nas televisões por todo o mundo. Em 2005 a série voltou a passar na televisão portuguesa e agora esperam-se os novos episódios que apesar de Peyo ter morrido há 16 anos, são agora produzidos pelo filho e restante equipa que mantém a criatividade e bom humor característicos da série. Uma longa-metragem dedicada aos “Estrumpfes” vai sair ainda este ano.
As comemorações do meio século “de vida” dos Estrumpfes começaram em Janeiro. A mais original será a digressão em países europeus de vários duendes “do tamanho de três maças”. A capital escolhida pela iniciativa acorda um dia de manhã com centenas de pequenos Estrumpfes brancos espalhados pela cidade a fazerem filas nos autocarros, nos correios ou a irem para o metro. Quem quiser pode pegar e ficar com um e pintá lo de acordo como a sua criatividade. O objectivo é espalhar a boa disposição e fazer sorrir toda a gente. Os mais originais “estrumpfam” um prémio. Também hoje será leiloado um Estrumpfe gigante pintado por uma celebridade. O lucro reverte na totalidade para a UNICEF. Entretanto, podem-se também “estrumpfar” os parabéns aos Estrumpfes, porque afinal meio século só se “estrumpfam” uma vez.
Público 23.10.2008 - 14h59 Ana Margarida Pereira
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