Entre rochas que parecem invioladas há cerca de 30.000 anos, foi descoberto, no vale do Côa, o primeiro santuário ao ar livre de artistas do Paleolítico. Acompanhando parte do trajecto deste rio que corre de Sul para Norte, detectaram-se centenas de painéis que indiciam o nascimento das... Belas-Artes no território português. Encasulada neste vale, ficou a chama criadora de gerações de artistas geniais (in National Geographic).
Em 1994 um grupo de arqueólogos portugueses anunciou alto e bom som que no vale do Rio Côa havia ‘um tesouro’ único no mundo, gravuras feitas por homens que ali tinham vivido há cerca de 20 mil anos! O assunto saltou fronteiras devido à idade atribuída àquelas obras de arte.
Em 1994 um grupo de arqueólogos portugueses anunciou alto e bom som que no vale do Rio Côa havia ‘um tesouro’ único no mundo, gravuras feitas por homens que ali tinham vivido há cerca de 20 mil anos! O assunto saltou fronteiras devido à idade atribuída àquelas obras de arte.
Se lhes dessem cem anos, mil anos ou cinco mil anos, ninguém ligaria grande importância porque dessas épocas há vestígios com fartura em toda a parte. Mas vinte mil anos era absolutamente extraordinário! Se de facto as gravuras tivessem sido feitas nesse período recuado a que se dá o nome científico de Paleolítico Superior, isso obrigava a rever o que já se concluíra a respeito da vida dos homens primitivos. Até então pensava-se, por exemplo, que os homens de há 20 mil anos pintavam e gravavam figuras sobretudo nas paredes ou tectos das cavernas. A descoberta das gravuras de Foz Côa prova que afinal os artistas do Paleolítico Superior também exprimiam os seus impulsos criadores à luz do sol.
Não admira portanto que os arqueólogos se entusiasmassem imenso com a descoberta, já que dedicam a vida a tentar reconstituir e compreender outras épocas da História da Humanidade. Como sempre que se trata da Pré-História têm que tirar conclusões a partir de fragmentos ínfimos e vestígios ténues da presença humana, uma estação arqueológica enorme como a de Foz Côa oferecia-lhe de facto um verdadeiro tesouro, uma fonte inesgotável de informações que logo à partida tornava o homem do Paleolítico mais próximo.
Numa zona de vale mais aberto o rio Côa forma uma praia relativamente extensa, cujas areias poderão estar a tapar mais rochas gravadas para além das que já são conhecidas. As escavações realizadas revelaram a ausência de níveis arqueológicos que comprovassem tais ocupações, os quais devem ter sido erodidos no início do Holocénico (o período geológico em que vivemos actualmente). Os depósitos fluviais actualmente observáveis no fundo do vale são relativamente recentes, a sua parte superior tendo sido acumulada apenas no decurso do último milénio.
Boa parte dos suportes das gravuras parece estar num estado adiantado de fragmentação. Surgem representações de cavalos, cabras, a associação cavalo-auroque bem como alguns signos e peixes. Particularmente interessante é o facto de serem comuns as representações em que o artista procurou transmitir a ideia de movimento, como demonstra uma possível cena de acasalamento em que uma égua é coberta por um cavalo cujas três cabeças procuram, tal como se faz na moderna banda desenhada, transmitir a ideia de um movimento descendente do pescoço.
A Canada do Inferno fica num troço em que o rio Côa percorre um vale profundo, com um encaixe de cerca de 130 metros . Era nesta zona do vale que estava em construção a barragem de Foz Côa. Foram já inventariadas várias dezenas de rochas gravadas, a maior parte das quais está submersa a pouca profundidade desde 1983, em consequência da construção da barragem do Pocinho, cuja albufeira penetra pelo vale do Côa acima até cerca de 6 km a montante da confluência com o Douro.
Entre as gravuras que datam do Paleolítico os motivos predominantes são as representações de auroques, cabras, cavalos e vários peixes gravados. Uma interessante componente deste núcleo são as gravuras de idade moderna ou contemporânea, cuja cronologia pode ser determinada em virtude de a respectiva data de execução (e, por vezes, o próprio nome do artista) também ter sido gravada. Entre o século XVII e o século XIX representaram-se sobretudo temas religiosos vários: cruzeiros, relicários, custódias. Em meados do século XX preferiu-se o registo de motivos seculares ou de cenas do quotidiano, como o sol e a lua, castelos, ou o comboio atravessando a ponte ferroviária da foz do Côa.
3ª Visita - Ribeira de Piscos
A foz da ribeira de Piscos marca a transição entre as encostas suaves por entre as quais o Côa flui desde a Quinta da Barca e o vale profundamente encaixado que percorre até à confluência com o Douro.
As figuras aqui encontradas contam-se entre as mais conhecidas gravuras do Côa, nomeadamente o tão conhecido "Homem de Piscos". No fundo do vale, junto à ribeira, está o painel da cena que representa dois cavalos de cabeça enlaçada; numa rocha ao lado está uma figura humana sobreposta a um auroque desenhado em gravado estriado (contorno gravado por incisão fina, cabeça e corpo preenchidos com numerosos traços de técnica idêntica). A cota mais elevada encontra-se ainda outro painel de gravuras filiformes representando quatro cavalos de cronologia paleolítica representados com grande realismo, num estilo que evoca a arte do final do Paleolítico superior.
Fomos lindamente recebidos pelos guias, Helena e Pedro, do PAVC - Parque Arqueológico do Vale do Coa. Estando sol ou chuva, mais ou menos cansados, fazem-nos conhecer um pouco da história da história destas gravuras, respondendo sempre às questões levantadas pelos visitantes (muitas das vezes numa outra língua que não a nossa), tornando a visita incansantemente interessante e por vezes mágica.
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